quarta-feira, 13 de junho de 2007

ASPECTOS SÓCIO-POLÍTICOS DA TV DIGITAL

ASPECTOS SÓCIO-POLÍTICOS DA TV DIGITAL.
(Extraído e adaptado da Cartilha Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social).

Por Daniela Passos e Evandro Filho

“O uso da TVD (Televisão Digital), pode disponibilizar nas casas dos brasileiros, serviços interativos de educação (que respondem as demandas específicas de cada usuário), de governo eletrônico (declaração de imposto de renda, pagamento de taxas, extrato de fundo de garantia, etc) além do uso de correio eletrônico (cada brasileiro com uma conta de e-mail). A multiprogramação, nesse caso, ampliaria os produtores de conteúdo televisivo. Assim, além dos operadores privados e estatais, sindicatos, associações, ONG’s e movimentos sociais, por exemplo, teriam a oportunidade de expor suas idéias através da mídia. Isso aumentaria a auto-estima da população, tendo em vista que ela seria colaboradora do conteúdo exposto e não apenas consumidora da informação”.

POR QUE O DEBATE PÚBLICO SE FAZ NECESSÁRIO.

“Aproximadamente 90% da população brasileira possui Tv em casa, sendo que a Tv e o rádio são as maiores, e as vezes única, fonte de informação para a maioria da população. Logo, é de vital importância que a população se mobilize para que haja um real debate público, tendo em vista que a TVD precisa atender às reais demandas da população, precisa “ter a cara da população”. Portanto, o modelo nacional seria capaz de dar respostas satisfatórias às necessidades do País. Um modelo desenvolvido a partir da realidade do Brasil pode responder ao desafio de ser um instrumento que impulsione nosso desenvolvimento social, cultural, político e econômico. Neste caso, pode-se dizer que a TVD brasileira poderia ser um importante instrumento de inclusão digital, o que não é uma necessidade para um país como os EUA, cujo padrão prioriza a alta definição ao invés da interatividade. No Brasil, menos de 15% da população usa computador e internet em casa, porém mas de 90% possui Tv. E se o Brasil optar pelo padrão conhecido como HDTV (High-definition television) a Tv passará contar com um imagem melhor, mas a mídia brasileira continuará como hoje, com poucas emissoras propagando a sua ideologia, enquanto a maioria das pessoas é excluída no processo de produção da informação. Já se o país optasse pelo que se chama de multicanal, no mesmo espaço onde hoje se transmite um único sinal, seria possível a recepção de até 04 novas programações e por conseqüência, a ampliação dos produtores de conteúdo televisivo poderia ser enorme”.

AS GRANDES EMISSORAS PRETENDEM IMPEDIR O APARECIMENTO DE NOVAS VOZES.

“As grandes emissoras se recusam a discutir as possibilidades de outros sujeitos, como, por exemplo, movimentos estudantis e universidades, ocuparem novos canais em um espaço que historicamente vem sendo monopolizado por eles. Se a opção do governo brasileiro for pela alta definição, esta imagem só será desfrutada pelo usuário que possuir um televisor de alta resolução, ou seja, a parcela mais abastada. Então, ao defender a alta definição na transmissão digital, as grandes emissoras pretendem impedir o surgimento de novas programações, e portanto, de novos concorrentes”.
Obviamente essa abertura descentralizaria o controle informacional e ideológico, o que não é interessante para os grandes proprietários da mídia.

DEMOCRATIZAR A COMUNICAÇÃO PERMITIRIA REVELAR A VERDADEIRA IDENTIDADE CULTURAL DO PAÍS.

Gilmar Mauro, membro da Coordenação Nacional do MST, declarou em uma entrevista ao Intervozes, que “há uma riqueza do povo brasileiro que não é refletida nos grandes meios de comunicação”.
De fato, hoje a indústria culturológica utiliza esses veículos informacionais para a manutenção da ideologia dominante, para criar fetiches, necessidades, para manter o sistema.
“ Além disso, a mídia se transforma em veículo para perpetuação de preconceitos. Os negros, assim como outros segmentos da sociedade, não estão representados na Tv, especialmente na construção de conteúdo. O aumento do número de canais, portanto, poderia reconfigurar o cenário da mídia no Brasil”.
Esta possibilidade aumentaria a auto-estima da população. Ela passaria a ser construtora do conteúdo informacional, exercitaria a cidadania. A democratização da comunicação é essencial para a total realização democrática do país.

SBTVD: INDEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA E GERAÇÃO DE EMPREGOS SÃO QUESTÕES EM JOGO.

“Se o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) fosse aprovado, a produção local fortaleceria a pesquisa brasileira, diminuiria nossa dependência externa de produtos de alta tecnologia e criaria uma indústria nacional, o que seria fundamental para que houvesse a quebra de dependência tecnológica e industrial em relação aos países desenvolvidos. Se o Brasil adotar um outro padrão, que não o brasileiro, o que está prestes a acontecer, o país não terá, portanto, que desenvolver novas tecnologias.
“Implantar o SBTVD no Brasil requereria uma política industrial que auxiliasse o país a se preparar para fabricar televisores, set top box, entre outros, na escala necessária para um dos maiores mercados de Tv’s do mundo e com um certo custo acessível á maioria desafortunada da população.
Esta seria uma grande oportunidade para que desenvolvêssemos tecnologias próprias, o que contribuiria, sem dúvidas, para a geração de empregos nas indústrias de eletrônicos”.

Diante dos fatos e argumentações, percebe-se que o governo precisa tomar uma decisão cautelosa. Afinal, a Tv é uma das grandes formadoras de opinião. Muitas vezes a população que não foi inserida em processos que lhe permitisse a criação de um senso crítico e negativista dos fatos, acaba por ter todas as informações veiculadas em programas televisivos, como o Jornal Nacional da emissora Globo, por exemplo, como verdades absolutas, mal se dão conta que nem sempre aquelas “são as principais notícias do dia”. À quem de fato são interessantes certas notícias transmitidas à população? Se as autoridades tivessem interesse em que esse bem público, que geralmente é relegado, realmente se tornasse democrático e tivesse um cunho mais sócio-cultural e menos mercadológico, a situação do público passaria a ser diferente. O pior é que “quanto mais rezamos, mais assombrações nos aparecem”!

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